24.2.10

Museu de Arte Contemporânea de Castilla e León












Com o contributo de Alunos e Professores, este catálogo adquirido na recente visita de estudo ao Museu de Arte Contemporânea de Castilla y León, está disponível para consulta no 1º piso e tem a cota 7.039 / 37.

Uma visão poética do Porto





No dia 18 de Fevereiro, no Pequeno Auditório, os alunos dos cursos nocturnos, sobretudo dos cursos EFA., acompanhados por alguns dos seus professores, assistiram à declamação de poemas sobre a cidade invicta, a maioria de Rui Fonseca, e outros de poetas conhecidos, como Eugénio de Andrade e Pedro Homem de Mello.
Foi um momento especial: a voz de Emília Pinheiro, declamando sabiamente os poemas do Rui, a voz do Rui, tocando e cantando melodiosamente alguns dos seus poemas, sensibilizaram o público presente. A magia da palavra aliada à magia da música tocada pelo Rui e pelo Simão, que acompanhou o Rui à viola, conseguiram contagiar e fazer cantar as pessoas presentes

22.2.10

Um pouco de silêncio


Nesta trepidante cultura nossa, da agitação e do barulho, gostar de sossego é uma excentricidade.

Sob a pressão do ter de parecer, ter de participar, ter de adquirir, ter de qualquer coisa, assumimos uma infinidade de obrigações. Muitas desnecessárias, outras impossíveis, algumas que não combinam connosco nem nos interessam.

Não há perdão nem amnistia para os que ficam de fora da ciranda: os que não se submetem mas questionam, os que pagam o preço da sua relativa autonomia, os que não se deixam escravizar, pelo menos sem alguma resistência.

O normal é ser actualizado, produtivo e bem informado. É indispensável circular, ser bem-relacionado. Quem não corre com a manada, praticamente nem existe, se não tomar cuidado, põem-no numa jaula: um animal estranho.

Pressionados pelo relógio, pelos compromissos, pela opinião alheia, disparamos sem rumo – ou por trilhos determinadas – como hamsters que se alimentam da sua própria agitação.

Ficar sossegado é perigoso: pode parecer doença. Recolher-se em casa ou dentro de si mesmo ameaça quem apanha um susto de cada vez que examina a sua alma.

Estar sozinho é considerado humilhante, sinal de que não «se arranjou» ninguém – como se a amizade ou o amor se «arranjasse» numa loja.

Além do desgosto pela solidão, temos horror à quietude. Pensamos logo em depressão: quem sabe terapia e antidepressivos? Uma criança que não brinca ou salta ou participa de actividades frenéticas está com algum problema.

O silêncio assusta-nos por retumbar no vazio dentro de nós. Quando nada se move nem faz barulho, notamos as frestas pelas quais nos espiam coisas incómodas e mal--resolvidas, ou se observa outro ângulo de nós mesmos. Damo-nos conta de que não somos apenas figurinhas atarantadas correndo entre a casa, o trabalho e o bar, a praia ou o campo.

Existe em nós, geralmente nem percebido e nada valorizado, algo para além desse que paga contas, faz amor, ganha dinheiro, e come, envelhece, e um dia (mas isso é só para os outros!) vai morrer. Quem é esse que afinal sou eu? Quais os seus desejos e medos, os seus projectos e sonhos?

No susto que essa ideia provoca, queremos ruído, ruídos. Chegamos a casa e ligamos a televisão antes de largarmos a carteira ou a pasta. Não é para assistirmos a um programa: é pela distracção.

O silêncio faz pensar, remexe águas paradas, trazendo à tona sabe Deus que desconcerto nosso. Com medo de vermos quem – ou o que – somos, adiamos o confronto com a nossa alma sem máscaras.

Mas, se aprendermos a gostar um pouco de sossego, descobrimos – em nós e no outro – regiões nem imaginadas, questões fascinantes e não necessariamente negativas.

Nunca esqueci a experiência de quando alguém me pôs a mão no ombro de criança e disse:

— Fica quietinha um momento só, escuta a chuva a chegar.

E ela chegou: intensa e lenta, tornando tudo singularmente novo. A quietude pode ser como essa chuva: nela nos refazemos para voltarmos mais inteiros ao convívio, às tantas frases, às tarefas, aos amores.

Então, por favor, dêem-me isso: um pouco de silêncio bom, para que eu escute o vento nas folhas, a chuva nas lajes, e tudo o que fala muito para além das palavras de todos os textos e da música de todos os sentimentos.


Lya Luft
Pensar é trangredir
Lisboa, Presença, 2005
Texto adaptado

16.2.10

MANIFESTO A MINHA INDIGNAÇÃO

Sou professor de Filosofia na EASR há cerca de 20 anos e, como é sabido, gosto muito da nossa escola, de nela trabalhar, conviver e partilhar o seu projecto colectivo. Reconheço que os nossos alunos são jovens, muitos deles (talvez a maioria) procuram este lugar de aprendizagem a partir de apelos mais ou menos conscientes do mundo da experiência estético-artística, de expressões e de comunicações vividas nas etapas anteriores do ensino.
Será, no entanto, que muitos dos nossos alunos já interiorizaram essa ideia banal e muito repetida que é um autêntico “lugar comum” que em arte “há 99% de transpiração e 1% de inspiração”? Que tudo se consegue a partir daquilo que Paula Rego dizia numa entrevista recente acerca do desenho: “Trabalho, trabalho, trabalho”; ou que Joana Vasconcelos lembrava que, para frequentar a “Soares dos Reis” de Lisboa, isto é a nossa escola “irmã” António Arroio, tinha que se levantar de madrugada?
Se parece que vemos muitos alunos interessados, a fervilhar em projectos, abertos a ensaiar e a aprender novas formas de expressão e de representação do real artístico (sabendo que é deste que se trata e se constrói e nunca o “outro”, um “real”que não se sabe o que é!), torna-se imperioso que todos entendamos a natureza exigente do acto pedagógico no ensino artístico! Que é estar numa aula, seja ela de Desenho, de História da Cultura e das Artes, de Português, de Filosofia ou de Geometria? É que em todas estas disciplinas se gere e constitui a imensa teia que há-de urdir a dimensão artística e a sua especificidade no mundo interior e exterior da totalidade complexa de cada um.
Vem tudo isto a propósito do uso que tem andado a ser feito dos Blogues, dos e-mails e da Internet por parte de alguns alunos. De uma forma mais ou menos anónima e impune, usaram ou têm usado este instrumento de comunicação, tão marcante do nosso presente, para fazerem maledicência, para acusarem, para denegrirem professores, confundindo tudo isto com a malfadada “liberdade de expressão”! Tenhamos clareza e transparência moral! Quem acusa tem que identificar-se, dirigir-se a quem de direito, fundamentar-se e nunca esconder-se no anonimato ou mais ou menos em algo parecido!
Convém que saibamos todos crescer eticamente e civicamente: e aí incluo-me eu, os nossos colegas professores, os alunos, os pais e encarregados de educação, os funcionários! Porque há regras a respeitar, a primeira das quais é o respeito por nós próprios e pelos outros e pela sua dignidade. Ora de tantos “zum-zuns” que soam pelos cantos, receio que muitos valores éticos andem a ser atropelados entre nós, que queiram uns tantos, a todo o custo, criar uma espécie de “selva” do vale tudo, para daí obterem dividendos, mesmo que se atropelem os outros!
Vamos respeitar-nos, usar estes meios tecnológicos formidáveis que nos permitem gerar aproximações aos demais, em vez de paradoxalmente mais parecerem estar ao serviço de fins de diabolização das relações interpessoais, da destruição do carácter dos outros, da negação dos valores humanos!
Revolta-me pensar que haja uma relutância tamanha da parte da população escolar –alunos, professores, pais, etc., em usar estes meios para comunicar ideias, trocar experiências e saberes, fazer pulsar o gosto pela descoberta, mas, em compensação, haja uma tamanha”participação” de “opiniões”quando se trata de dizer mal de alguém, de ofender pessoas, de denegrir gratuitamente! Ora bolas! Protesto e não me reconheço nestas atitudes! Que reprovo e penso ser acompanhado pela grande maioria daqueles que comigo fazer da Soares essa imensa Comunidade de Afectos!
Vamos todos pensar um pouco?

José Melo (Prof. de Filosofia e Coordenador dos Directores de Turma)