16.2.10

MANIFESTO A MINHA INDIGNAÇÃO

Sou professor de Filosofia na EASR há cerca de 20 anos e, como é sabido, gosto muito da nossa escola, de nela trabalhar, conviver e partilhar o seu projecto colectivo. Reconheço que os nossos alunos são jovens, muitos deles (talvez a maioria) procuram este lugar de aprendizagem a partir de apelos mais ou menos conscientes do mundo da experiência estético-artística, de expressões e de comunicações vividas nas etapas anteriores do ensino.
Será, no entanto, que muitos dos nossos alunos já interiorizaram essa ideia banal e muito repetida que é um autêntico “lugar comum” que em arte “há 99% de transpiração e 1% de inspiração”? Que tudo se consegue a partir daquilo que Paula Rego dizia numa entrevista recente acerca do desenho: “Trabalho, trabalho, trabalho”; ou que Joana Vasconcelos lembrava que, para frequentar a “Soares dos Reis” de Lisboa, isto é a nossa escola “irmã” António Arroio, tinha que se levantar de madrugada?
Se parece que vemos muitos alunos interessados, a fervilhar em projectos, abertos a ensaiar e a aprender novas formas de expressão e de representação do real artístico (sabendo que é deste que se trata e se constrói e nunca o “outro”, um “real”que não se sabe o que é!), torna-se imperioso que todos entendamos a natureza exigente do acto pedagógico no ensino artístico! Que é estar numa aula, seja ela de Desenho, de História da Cultura e das Artes, de Português, de Filosofia ou de Geometria? É que em todas estas disciplinas se gere e constitui a imensa teia que há-de urdir a dimensão artística e a sua especificidade no mundo interior e exterior da totalidade complexa de cada um.
Vem tudo isto a propósito do uso que tem andado a ser feito dos Blogues, dos e-mails e da Internet por parte de alguns alunos. De uma forma mais ou menos anónima e impune, usaram ou têm usado este instrumento de comunicação, tão marcante do nosso presente, para fazerem maledicência, para acusarem, para denegrirem professores, confundindo tudo isto com a malfadada “liberdade de expressão”! Tenhamos clareza e transparência moral! Quem acusa tem que identificar-se, dirigir-se a quem de direito, fundamentar-se e nunca esconder-se no anonimato ou mais ou menos em algo parecido!
Convém que saibamos todos crescer eticamente e civicamente: e aí incluo-me eu, os nossos colegas professores, os alunos, os pais e encarregados de educação, os funcionários! Porque há regras a respeitar, a primeira das quais é o respeito por nós próprios e pelos outros e pela sua dignidade. Ora de tantos “zum-zuns” que soam pelos cantos, receio que muitos valores éticos andem a ser atropelados entre nós, que queiram uns tantos, a todo o custo, criar uma espécie de “selva” do vale tudo, para daí obterem dividendos, mesmo que se atropelem os outros!
Vamos respeitar-nos, usar estes meios tecnológicos formidáveis que nos permitem gerar aproximações aos demais, em vez de paradoxalmente mais parecerem estar ao serviço de fins de diabolização das relações interpessoais, da destruição do carácter dos outros, da negação dos valores humanos!
Revolta-me pensar que haja uma relutância tamanha da parte da população escolar –alunos, professores, pais, etc., em usar estes meios para comunicar ideias, trocar experiências e saberes, fazer pulsar o gosto pela descoberta, mas, em compensação, haja uma tamanha”participação” de “opiniões”quando se trata de dizer mal de alguém, de ofender pessoas, de denegrir gratuitamente! Ora bolas! Protesto e não me reconheço nestas atitudes! Que reprovo e penso ser acompanhado pela grande maioria daqueles que comigo fazer da Soares essa imensa Comunidade de Afectos!
Vamos todos pensar um pouco?

José Melo (Prof. de Filosofia e Coordenador dos Directores de Turma)

5 comentários:

  1. Exmo. Sr. Professor José Melo
    Escrevo, indignado, na qualidade de Encarregado de Educação da aluna Diana Choi Loureiro e a propósito do seu texto "MANIFESTO A MINHA INDIGNAÇÃO" sobre o "blog" da minha Educanda. Importa corrigir de imediato que aquele "blog" está perfeitamente identificado e que "Pepper" é o nome por que ela é conhecida na comunidade escolar. Toda a comunidade escolar sabe a quem pertence o "blog". Não posso de forma alguma aceitar os insultos expressos na falta de clareza e transparência moral que invoca, por as mesmas não existirem e virem de quem deveria, na sua qualidade de pedagogo, ter maior contenção verbal e consciência da fragilidade de quem, acusando, se expõe, não lhe restando outro espaço senão o da denúncia levada a cabo. Interrogo-me sobre as intenções da sua carta.
    Quero deixar bem claro que tendo tido conhecimento posterior do conteúdo do referido artigo no "blog" da minha Educanda, subscrevo-o na totalidade e estranho que o que lá se reporta não tenha sido motivo de forte inquietação, apuramento da verdade, busca de informação, tentativa de saneamento do caso, mas sim objecto de indignação, de tentativa de branqueamento e pasme-se, de recomendações de censura e punição junto do Conselho Directivo da Escola.

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  2. Entendendo que o Sr. Professor não escreveu a rogo de ninguém e subscrevendo muito do que afirma, não posso deixar de registar e lamentar o conveniente aproveitamento que deixou fazer da sua "indignação", nomeadamente o aproveitamento corporativista dos referidos Professores de Geometria, de cuja origem a sua carta chegou até ao meu conhecimento, por e-mail, enviado à comunidade escolar e veiculada pela minha Educanda.
    Relevo da sua "indignação" expressa na dita carta e cito "torna-se imperioso que todos entendamos a natureza exigente do acto pedagógico no ensino artístico!"
    Não poderia estar mais de acordo com a sua afirmação que me parece poder e dever estender a todo ensino. Contudo entendo que uma escola não é uma abstracção e que não existe para servir inconfessáveis interesses particulares. Existe em primeiro lugar para servir a comunidade e não faz sentido sem ela. Não tem existência sem a população estudantil e a sociedade que serve. Nesse contexto o acervo pedagógico e cultural da mesma mede-se pela quantidade e qualidade de homens e mulheres que é capaz de formar de forma saudável e não desviada e pela capacidade de autocrítica, em oposição ao corporativismo bacoco e à política de avestruz, que tentando fazer ignorar a gravidade dos problemas quando eles existem, pensa resolvê-los desse modo, convivendo incestuosamente com eles e deixando-os, ao longo de anos, arrastar e manchar os pergaminhos da Instituição.
    Entenda-se que não está em causa a disciplina de Geometria Descritiva, de cuja relevância curricular eu não discordo, entendendo até que a sua adequada compreensão e exercício fornece a ginástica mental necessária à compreensão de outros mais eficazes e actuais sistemas de representação, constituindo-se portanto em importante ferramenta propedêutica. Entenda-se pois e entendam e tranquilizem-se os Srs. Professores que não se trata de uma cruzada contra as virtualidades da Disciplina.
    Entendo ainda que os alunos têm tendência a trabalhar pouco e alguma relutância em enfrentar dificuldades, pessoalmente subscrevendo os 90% de suor e 10% de inspiração ou genialidade a que se refere, como medida desejável do esforço que devem fazer.
    Contudo, para além de tudo isto em que concordamos, existe um problema que não pode nem deve ser iludido com sucessivas e corporativas cortinas de fumo. Há um professor desta disciplina, cujo nome me dispenso de aqui referir por questões de pudor, que presta à comunidade um mau serviço. O problema tem duas vertentes que me parecem indissociáveis na medida em que uma condiciona a outra: a vertente comportamental e a vertente pedagógica.
    Um professor que não ensina, que faz da disciplina um saber hermético abandonando os alunos à sua ignorância, que divide o seu tempo pela leitura do jornal, pela conversa de corredor, pelo continuado assédio às alunas, pela conversa brejeira, discriminando rapazes e raparigas, queimando tempo com conversa banais e de mau gosto, instilando valores desviados com origem num reprovável e lamentável comportamento bizarro de desvio não merece nem pode educar os nossos filhos. O seu lugar não é seguramente a sala de aula.
    Por esse motivo e de uma forma responsável e transparente, os Encarregados de Educação dos alunos da turma 11B1, reunidos em reunião de Direcção de Turma, decidiram levar oficialmente o problema ao conhecimento da Direcção da Escola, aguardando que esse conhecimento faça o seu caminho e produza os efeitos correctivos necessários, certos de que se essa via não der frutos, outras há para corrigir a situação. Para grandes males grandes remédios.
    Como Pai e Encarregado de Educação não pactuarei com tentativas de perseguição à minha Educanda e de branqueamento deste caso por mais subliminar que se apresentem, estando disposto a ir até onde for necessário para resolver o problema.
    Perante tudo isto reitero aqui o seu convite, acrescido de algum bom senso: Vamos todos pensar um pouco e sobretudo informar-nos antes de emitir e fazer opinião?

    Marcos Fernando Loureiro

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  3. Esta (acima) é a resposta que é necessário compreender e subscrever relativamente a este dois problemas, o primeiro: o caso do professor que não pode dar aulas dessa forma, e o segundo que é o desvio do foco de atenção do professor para a aluna.
    É uma desilusão para mim ver como a escola está agir, e refiro-me a um grande número de professores. E enquanto aluno, membro da associação de estudantes e representante dos mesmos no conselho pedagógico farei tudo para que esta situação se resolva de uma maneira justa, e não vá pelo caminho vergonhoso que está a tomar, revelador de um sentido pedagógico esquecido.

    Fábio Ramunni, 11ºA1

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  4. Lamento imenso tudo aquilo que se passa nessa aula de "Geometria" não que tenha assistido pessoalmente ! mas tenho um aluno(amigo) nessa turma que me confirmou (contou) como essa aula costuma ser dada ,como acredito na versão desse mesmo aluno fiquei muito desiludida quando li o que o professor Melo escreveu ,não consigo perceber como é capaz de fazer as afirmações que li no texto .
    Ainda não li o blog da "Pepper" mas sei que é uma aluna muito conhecida na escola ,por isso não percebo porque o professor diz e passo a citar - Vem tudo isto a propósito do uso que tem andado a ser feito dos Blogues, dos e-mails e da Internet por parte de alguns alunos. De uma forma mais ou menos anónima e impune, usaram ou têm usado este instrumento de comunicação, tão marcante do nosso presente, para fazerem maledicência, para acusarem, para denegrirem professores, confundindo tudo isto com a malfadada “liberdade de expressão”! Tenhamos clareza e transparência moral! Quem acusa tem que identificar-se, dirigir-se a quem de direito, fundamentar-se e nunca esconder-se no anonimato ou mais ou menos em algo parecido!.
    Bom , gostaria de dizer muitas mais coisa sobre a forma como é dada Geometria por esse professor ,atenção !!!! não me dirijo aos professores de Geometria no geral ,mas sim em particular ao professor em causa !!!! mas o texto iria ser longo demais .
    Professor Melo fiz o que o senhor aconselhou no fim do seu texto e reflectindo sobre tudo o que escreveu cheguei á conclusão que o professor ficaria mais satisfeito se estas situações fossem "escondidas",errada ou não, mas foi esta a conclusão que tirei .

    Graça Teixeira ( mãe de uma aluna da Soares dos Reis )

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