PEDRA
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Álvaro de Campos
Nasci pedra em bruto.
Nasci pedra em bruto,
e expus-me, depurada,
sem defeitos,
na vitrina dos teus olhos, Mãe.
Mãe,
eu expus-me...
Mas cedo tentaram polir-me...
E expus-me, mais uma vez,
na vitrina dos teus olhos.
Gritei que me comprasses
(não fosse eu pedra polida).
Não compraste.
Jamais aceitarias a tua pedra, polida;
não seria mais a tua pedra...
Então, tarde, tentaram polir-me.
Poliram-me tanto, Mãe...
...
Poliram-me tanto...
E eu tornei-me grão...
... frustrado com a minha pequenez,
também eu tentei polir-me...
E, assim, me tornei poeira...
Oh!,
a poeira que se vai
com o ritmo das palavras
que hoje escrevo.
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Álvaro de Campos
Nasci pedra em bruto.
Nasci pedra em bruto,
e expus-me, depurada,
sem defeitos,
na vitrina dos teus olhos, Mãe.
Mãe,
eu expus-me...
Mas cedo tentaram polir-me...
E expus-me, mais uma vez,
na vitrina dos teus olhos.
Gritei que me comprasses
(não fosse eu pedra polida).
Não compraste.
Jamais aceitarias a tua pedra, polida;
não seria mais a tua pedra...
Então, tarde, tentaram polir-me.
Poliram-me tanto, Mãe...
...
Poliram-me tanto...
E eu tornei-me grão...
... frustrado com a minha pequenez,
também eu tentei polir-me...
E, assim, me tornei poeira...
Oh!,
a poeira que se vai
com o ritmo das palavras
que hoje escrevo.
VENTO
das minhas noites de Inverno
Apaixono-me pelo vento
à medida que ele acaricia
os meus cabelos,
e os afasta do meu rosto...
à medida que me esboça
e me dá a conhecer
as minhas feições.
Há, de facto,
dias em que caminho
de frente para ele,
e ele me limpa a visão,
turva.
Existem, porém,
vivências paralelas
em que lhe viro as costas
e sinto os meus cabelos
a cobrirem-me os olhos.
Apaixono-me então
pela sua ausência,
e devoro-me,
na minha solidão.
O vento vai...
e deixo de sentir
o seu toque na minha pele.
Depois de um tempo,
sinto o odor errante de volta.
Ele retorna,
na primavera dos sentidos,
enquanto o seu cheiro
me penetra a pele.
Chama por mim,
naquele silêncio uivante
que só ele conhece,
e delineia-me o dorso.
Volto-me.
Volto para o vento,
e voo com ele
(mesmo quando não quero).
Voo, e não piso mais este chão,
imundo.
Voo, e não me piso mais,
imunda.
Nunca fui do vento.
Sempre fui do mundo.
E um dia,
quando eu morrer
e o meu corpo, gélido,
tentar imitar o arrepio
que me deu vida,
o vento dir-me-á
que sempre foi meu
(que sempre fui eu).
Teresa Sofia Chow Soares de Carvalho
Sem comentários:
Enviar um comentário