16.12.09

Biblioteca

Templo de sagrado recolhimento, entretecido à volta de um silêncio que se quer sábio, ele é convite a uma oração de Mistério. Sítio do Logos, aqui todos os espíritos se devem sentar à mesa, em concílio, pois a biblioteca convoca-nos a todos, novos Édipos aprendizes, para a ousadia de respondermos à Esfinge, sob a pressão dramática de um Cronos, equivocamente fugaz/voraz e eterno.

Aqui, mortos e vivos cavaqueiam nas suas prateleiras e/ou cumprem o seu apaixonante dever de descer até às mesas, às nossas brancas e jovens mesas, para inquietar, dulcificar, mobilizar, apaziguar, preocupar, ou desenjoar, ou desentristecer as almas, neste já antigo, de tão velho amplexo longínquo, que nos vem restituir o jeito e o gosto de sermos gente, acrescentando Humanidade à nossa existência, sempre escassa, sempre precária…

Por isso, temos todos, novos e velhos, alunos, professores ou funcionários, obrigação de, aqui, falarmos a meia voz e, desta forma subtil, e fidalga até, deixarmos os nossos sonhos libertarem-se, enfim, página a página, parágrafo a parágrafo, pétala a pétala da mais terna poesia, da mais fina literatura, do mais sólido saber.

Ocupar este Espaço é arejar, com boa nota, a razão de ser desta Escola: ao ritualizarmos esta cosmogonia, transpondo o umbral que nos traz à claridade, estamos a cumprir a plenitude do Sentido que nos faltava! Porque os livros, os discos, os filmes, os jornais e as revistas… falam, interpelam, agitam, acordam as nossas consciências, apesar da nossa letargia aparente. Eles são muito mais que um simples invólucro de Civilização: são antes a promessa realizada de uma nova e renovada aliança permanente dos homens com o mundo, a certeza de que entre eles pode haver, tem de haver, de Verdade, uma Comunicação viva!
Texto do Professor José Melo

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