METAMORFOSE
"Le faucon est parfois représenté encapuchonné. Il symbolise alors l'espérance en la lumière que nourrit celui qui vit dans les ténèbres [...]: Post tenebras spero lucem."[1]
A metamorfose, considerada como mudança/transformação na forma ou estrutura do corpo, pode implicar uma mudança de hábitos e de habitat; pode ir além de uma modificação física, pode ser uma alteração de estado psicológico: a nível de comportamento, atitudes, sentimentos e opiniões.
Na Metamorfose de Ovídeo (ano 14), os deuses/mitos transformam-se em animais ou plantas, de forma a destacarem os seus feitos épicos.
Na Metamorfose de Kafka (1912/1915), Gregor transforma-se num insecto e deixa de ter vida própria. A mutação vai além da transformação física. Há uma nova forma de ver o mundo, porque os seus sentidos o apreendem por uma lógica diferente da do quotidiano.
"Todo o indivíduo se desenvolve numa realidade social em cujas necessidades e valorações culturais se moldam os próprios valores da vida. No indivíduo confrontam-se, por assim dizer, dois pólos de uma mesma relação: a sua criatividade, que representa as potencialidades de um ser único, e a sua criação, que será a realização dessas potencialidades já dentro do quadro de determinada cultura"[2].
Jorge de Sena, em Metamorfoses, medita sobre o destino do homem e ordena um percurso da humanidade, reflectindo sobre a condição humana, a recusa da morte e a possibilidade de recuperação, em termos simbólicos, daquele "tudo / o que de deuses palpita e ressuscita em nós"[3]. Vai além de uma experiência de metamorfoses do corpo para abordar a problemática da identidade.
Em O físico prodigioso, o amor e a liberdade e a força da sua luta contra a ordem estabelecida vão ultrapassar a morte e o espaço, ao transformarem-se em elemento simbólico.
O Físico, que é ao mesmo tempo o diabo, é simultaneamente um deus .
O jogo e a troca de identidades entre as personagens, a relação entre o corpo e as suas manifestações noutro corpo, a metamorfose do Cavaleiro ao tornar-se invisível (por acção do gorro), a transfiguração da paisagem e a ressuscitação dos mortos são também diferentes formas de metamorfose, assim como o são a mudança de discurso ( o que é dito e o que é ouvido) e o refazer do próprio texto.
Manuela Pereira _ 21mai09
1 Jean Chevalier e Alain Gheerbrant, Diccionaire des Symboles
2 autor desconhecido
3 Jorge de Sena, do poema Artemidoro
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