Pete Seeger é um cantor de intervenção americano, uma espécie de Zeca Afonso que tem 90 anos. E que cantou a vitória de Barak Obama no Memorial de Lincoln, em 18 de Janeiro passado, com o hino de Woody Guthrie “This Land is your Land”, em conjunto com Bruce Springsteen e acaompanhados por uma imensa multidão que incluía o recém-eleito Presidente. Este cant’autor da folk, sempre na estrada, foi um grande companheiro de grandes nomes da música norte-americana, como Woody Guthrie e seu filho Arlo Guthrie, Bob Dylan, Joan Baez, e tantos outros, com quem tocou verdadeiras lendas da folk music, algumas cantadas por grupos de rock como “Turn, turn, turn”cantada pelos Byrd nos anos 60. Os temas das canções são a vida do povo simples, dos operários, das gentes humildes e ignoradas, os próprios escravos negros dos campos de algodão dos estados do Sul que geraram a “soul music” e os espirituais negros, que cantavam uma canção muito conhecida, também cantada por Seeger “Kumaya”. Ou “We shall overcame”, esse grande hino da paz, ou seja anti-guerra do Vietname (ou sobretudo do Iraque).
O mais curioso de tudo isto é que Pete Seeger vai continuando a cantar. Espero até que o tenha feito neste domingo – dia 3 de Maio – na festa que a América lhe dispensou no Madison Square Garden, em Nova Iorque. Mas dá-nos uma grande lição de sabedoria e de desprendimento: porque recusou sempre a vida fácil da “carreira comercial”, soube exigir a outros de quem estava próximo, musical e ideologicamente, como Bob Dylan, que se mantivessem fiéis aos seus ideais – de denúncia das injustiças, das guerras, dos intervencionismos militares de que o poder americano se mostrou sempre tão pródigo! A sua luta tem sido tão longa e resistente que teve que atravessar o momento dramático do “macCartismo”, quando, nos anos 50 do século XX, intelectuais, cientistas, militares, jornalistas e outros democratas eram perseguidos pelas suas ideias e acusados de “comunistas”, numa verdadeira “caça às bruxas” movida pelo governo americano através do senador Joseph R. MacCarthy. Tudo se prolongou pelos famosos e prodigiosos anos 60, com as lutas anti-raciais e a favor dos direitos cívicos dos negros, a contestação estudantil à guerra do Vietname e a luta dos povos da América Latina de que a bandeira mítica de Che Guevara foi apenas um apontamento, talvez para acicatar a famosa canção “Gantanamera”.
«Em Pete Seeger conjuga-se o tradicional e o actual, as canções de há séculos e as dos cantores urbanos de hoje. Cantará, umas atrás das outras, uma balada escocesa, uma canção de trabalho judaica, uma melodia negra nascida nas prisões do Sul, uma canção de mineiros, outra contra a Guerra do Vietname. O fio condutor desta enorme variedade é a luta contra a injustiça, a fome e a miséria, a sua indestrutível fé no homem, a luta contra toda a opressão.» Escreve Ramon Padilla, em artigo do “Expresso online” de onde respiguei alguns dados. É muito oportuno que as novas gerações, de lá ou de cá, conheçam uma América, tão viva e interessante, que tantas e tantas vezes viveu ou vive ainda no esquecimento, na marginalização apenas porque recusa viver muito consciente e livremente à sombra do dinheiro.
Sem comentários:
Enviar um comentário